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Devoção

Pode o amor ser devoção? Ou ele é apenas o dorso de um alazão indomável? Eu levaria uma eternidade para alcançar a felicidade, se dela me aproximasse a cada passo. Ser mulher faz de mim uma mergulhadora. O abissal me aconchega e não quero mais voltar. Faz de mim uma batalhadora. As batalhas entoam seu canto de sereia e me afogo. Faz de mim uma pétala em flor, apenas parte, pedaço, incompleta e delicada. Faz de meu corpo uma casa de janelas abertas e, na soleira. um letreiro: se amas, és bem-vindo. .

O SAGRADO FEMININO

Há singularidades que envolvem a saúde, o bem-estar e a sexualidade das mulheres que merecem um espaço reservado e protegido para serem cuidados. São tantas etapas na vida em que nosso ventre se abre para receber e exteriorizar o sagrado! Na puberdade, sem jamais estarmos preparadas psíquica e emocionalmente para isso, passamos a produzir internamente a morada para a chegada de um bebê. E a cada mês, derramamos sangue por nossa pureza. Mas não somos conscientes disso. Alguém nos explica que isso se chama menstruação, nos ensina a usar absorventes e nos leva a um médico para tomarmos um anticoncepcional e podermos viver uma sexualidade livre. É necessário muito diálogo envolvendo essas experiências para tudo isso não ser vivido como invasão e coisificação do corpo jovem da mulher! São muitas etapas que devemos atravessar para nos apossarmos de nós mesmas. Nossos corpos passam a ser considerados objetos de desejo muito antes de o desejo sexual ser concebido em nosso ventre.

Quando nada parece fazer sentido

Pode haver momentos em que você esteja cansado de si mesmo, já nada faça sentido - seja em você, nas situações que vive ou nas pessoas à sua volta. Nesses momentos, não desistiremos de iluminar o que é único em você e não deixaremos que você perca de vista o que há de mais essencial em você: a sua singularidade. Só você pode expressá-la. E se você não a expressar, o mundo inteiro ficará menor. Pois só você tem essa luz, só você tem essa essência. Nos momentos em que a vida parece não fazer sentido, tocamos a vida sem pensar, sem refletir, sem gostar, sem escolher. Vamos levando. Às vezes conseguimos até escovar os dentes, nos alimentar, tomar banho, dormir. Tem vezes que nem isso conseguimos. Às vezes conseguimos ir à escola, à faculdade, ao estágio, ir trabalhar, mas somos levados pela inércia. Não estamos realmente ali. Nem temos a mínima ideia de onde estamos. Na medida em que caminhamos, não sabemos em que direção estamos indo. É como se estivéssemos andando em um labirin

Tua mão

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Foto de Alberto Alves . Tua mão . A mão que me segura é aquela em que me pego Leve, se oferece sem pressa ou opressão . Oscilo no ar entre dançar e cair No desenho dos meus passos estão teus dedos a conduzir . Seu toque abre meus olhos me tira da escuridão O mundo, então, se oferece a meus pés no tato da mão. . .

Uma mulher

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Como recipiente,  pode hospedar energias em formas variadas,  sólidas,  líquidas,  gasosas,  espirituais,  subjetivas,  intocáveis e, até mesmo  insondáveis. Como vinho, pode enebriar os humores, tingir os momentos, adocicar a vida, e enternecer a tarde,, amadurecendo no tempo dos encontros. Se o recipiente for frágil pode rachar, e não poderá conter o vinho. O vinho pode embebedar e manchar até a alma. Apenas no encontro o recipiente e o vinho poderão ser, respectivamente, ocupado e sorvido. Pode ter um encanto natural, que convida a gente a sentar em seu colo. Com um simples olhar acompanhado de um sorriso, tornar-se um lugar confortável e seguro. Pode falar sem arrogância ou certeza: ser capaz de transitar no incerto e no feio, no escuro e no áspero com leveza e calma, sem afobar a quem se aflige nestes terrenos perigosos. Pode falar como uma mão que apóia e conduz. E, então, dançar livremente! Estando atenta aos ritmos, aos passos descompassados, aos afobamentos e hesitações, i

O ACONTECER TERAPÊUTICO

O acontecer de um momento verdadeiramente terapêutico ocorre, segundo Shotter, quando algo especialmente singular abre novas possibilidades para o futuro. Para tentar atingi-lo, o diálogo que se estabelece precisa admitir desdobramentos dinâmicos e emergentes, alimentar permanentemente sua criatividade imanente, tecer caminhos sempre singulares e ser fiel à condição de ser interminável. A criação desses momentos depende da maneira como a responsividade espontânea dos corpos do terapeuta e dos consultantes dá forma expressiva à singularidade dos sentimentos e ideias. O que verdadeiramente muda em nós no momento terapêutico não é a   aprendizagem de novos fatos ou informações, mas sim a aprendizagem de novas maneiras de nos relacionarmos com os outros e com a alteridade no mundo que nos cerca. Os sentimentos   mudam todo o tempo, estão lá por um segundo e se vão no instante seguinte. Como compreender sua natureza e seus significados? Pensamos a partir de um fluxo incessan

APEGO E MUDANÇA

Nilton Bonder(i) nos ensina que para mudar, crescer ou se desenvolver precisamos trair. O novo é um rompimento com os padrões assumidos na vida, uma superação do que já se tornou uma tradição em nossas vidas, portanto, uma traição ao antigo modo de atuarmos e pensarmos. O apego seria, para ele, uma traição à própria alma, a si mesmo, resultado de uma tensão entre a necessidade de preservação e o medo da transformação. Para ele, não há superação sem transgressão. Ele nos lança o desafio de sempre buscar e sempre superar, o desafio da perseverança e da altivez. O conjunto de crenças e padrões de conduta que aprendemos quando crianças se constrói dentro de nós como firmes tradições a serem mantidas e transmitidas às próximas gerações. Protegê-las equivale a proteger o mundo de invasões bárbaras. Passamos a ser guardiões da ordem e dos bons costumes ao nos mantermos fiéis a um modo de vida. O universo das experiências vividas nos limita a pensar que o que temos diante de nós é "

Traições

Brincar, quando as trevas iluminam o caminho. Poupar, quando o momento exige investimento. Ficar, quando o que está estagnado pede movimento. Ceder, quando se trata de algo imprescindível. Duvidar, quando tudo depende da confiança mútua. Acelerar, quando o processo de mudança caminha a passos lentos. Aparência, quando a dor não mostra sua face. Dormir, quando a presença se torna insuportável. Comer, quando a angústia consome todo o seu ser. Fumar, quando não resta saída, senão entorpecer. Sorrir, quando é honesto chorar. Enfeitar-se, quando só se pede um olhar. Fazer planos, quando os sonhos permanecem adormecidos. Produzir, quando se esquece o sentido da luta. Agüentar, quando a alegria e a felicidade já não são almejadas. Suspirar, quando é necessário fôlego para terminar a jornada. Cobrar, quando o outro não tem como quitar. Acusar, quando tudo o que se deseja é o entendimento. Fazer amor, q uando o toque nos confirma a perda do encantamento. Cont
O divórcio É triste. Acima de tudo, é triste. Em quaisquer circunstâncias, é triste. Os meninos são os que mais sofrem, e sofrem calados. Ainda crianças, não têm palavras para dizer, dizem com o corpo e com suas ações. E ninguém entende essa linguagem. Cuidam para que o pior não aconteça. Mas, o que é o pior? Saímos dessa situação sempre cheios de marcas doídas. É difícil se sentir inteiro, difícil se olhar no espelho, difícil não se achar feio. Somos um fracasso, desperdiçamos algo de valor, destruímos uma família... Somos médico e monstro. Para curar uma dor provocamos outras. E não tem como evitar. Saída? O tempo... No início, a respiração é ofegante, curta, rápida e insuficiente. As palavras são ásperas, rudes, mesquinhas e vingativas. Os pensamentos são os piores possíveis. Sentimos intensamente cada emoção, e não é nada bom. Há escuridão, que traz o medo. Não sabemos onde tudo isso vai dar. Não sabemos se e como iremos sobrevive

Grãos de areia

As ondas estão desmanchando os castelos, A areia ressurge como caminho a ser trilhado. Os sonhos que sonhava acordada Dão origem a uma visão mais nítida do lugar que ocupo. Os suspiros, que esvaziavam meus pulmões de ar, Enchendo-os de ansiedade, Dão lugar a uma tristeza fértil. Transito na dor de modo transformado. Não a dor da ausência, da solidão, do esquecimento, da indiferença... Dor de adeus, dor de fim. Quem sabe agora eu volte a ter força para remar E cruzar o oceano que me afasta de minha sensatez? Belos castelos, aqueles. Como dói vê-los apenas grãos de areia salgados pelo mar. Voltar a ter apenas dois pés e duas mãos... Que retorno doloroso, meu Deus! O nascer e o por do sol, Cavernas a explorar, Montanhas a atravessar, Na ausência de cumplicidade para os olhos E sentido para os sentidos. Não é o mundo que se desfaz, é um modo de vivê-lo, Um modo de ser despertada por ele. Onde buscar o encanto que me oferece como berço a todas as criaturas vivas? Como espreitar as emoções
Te filmei Não sei como começou Não me lembro da despedida Não guardei seu nome Nem trocamos telefone. Apenas caminhamos lado a lado Escondidos sob olhares evasivos E outros disfarces. Tão casual como encontrar alguém numa fila de cinema. Te filmei. Guardei daquele encontro o olhar: Penetrante. Desejei de novo aqueles olhos. Mas tudo parecia ter desaparecido nas ruas da cidade. Lembrei do seu rosto Mas não liguei o nome à pessoa. As lembranças foram decantando aos poucos Em imagens esparsas que buscavam algo deixado guardado no esquecimento. Às escuras, Fiquei apenas com a lembrança do desejo de rever. E me deixei ficar ao seu lado Tentando recuperar a atração guardada em segredo. Em vão. Mas vivo na lembrança. . . .

Mulher rendeira.

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Foto de Jmac - Olhares.com Eu devia aprender a rendar. Nunca fui prendada para as coisas das mãos, que levam muito tempo para ficarem prontas. Imagine, dias e dias trabalhando e a belezura longe de chegar. E dá vontade de fazer coisas mais animadas, dormir na rede, por exemplo, ou jogar cartas, se é prá ficar ali sentada, ou fazer um bolinho de chuva prá comer com limonada de casca e café bem preto. Pelo menos, se rendasse, a espera passava. Que espera é muito bonito no papel, no repente, na canção, mas vai agüentar ela, vai. Ela te incomoda pior que coceira, que para esta tem remédio coçar. Ela deixa você parecendo avariado, olhando na direção onde não tem ninguém, demorando prá responder quando perguntam, perdendo as palavras no meio do assunto. A espera te faz presa mansa, que nem tenta fugir, que agrada estar totalmente entregue à sorte e ao azar. Ou passava a renda. Que, se a espera fosse mais teimosa que os dedos, eles tinham que parar para puxar o tempo. Que no longe nunca s

Abraço.

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Foto de Miguel Lucena Abraço. Que delícia esse abraço... Então fica. Estou aqui. Quero ficar. Esperei tanto por isso! Eu também. Meu coração disparou. O meu estancou. Precisava tanto dividir o peso... Relaxa. Precisava tanto dessa emoção... Não a temo. A amo. Teu abraço me deu descanso. Repouse em mim. . . .