Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2007

Desaforo.

Imagem
Foto: Helder Almeida. Desaforo. Nem sempre é a nudez que revela o ser. Escondido sob a alvura ele pode ofuscar. Ostentado pela beleza ele pode enfeitiçar. Fragilizado na entrega ele pode estilhaçar. Procura-se uma concha. Silêncio com dimensão de oceano a ecoar. Janela que emoldura, Túnel que esconde, Roupa que aloja, Forma que transcende. Dentro se faz escuro e frio. Mãos pálidas se calam. Os pés cálidos, Cegos e surdos, nada pressentem. Arrojada, a voz entoa seu gemido. O dentro está sempre a desaforar.

Filhos de um Deus menor?

Imagem
Foto: Bruno Dias. Filhos de um Deus menor? Se a barbárie fosse a mãe de todas as crianças talvez não tivéssemos a quem rogar. Quem inventou a Deus? Foi aquele que agonizava ou o que temia pela perda de sua felicidade? Se os mais desgraçados são filhos de um Deus menor Mostre-me teu Deus e eu te direi quem és. Em minha terra há muitos Deuses. Há liberdade para orar E há liberdade para não orar. Muitas vezes os que mais sofrem têm os maiores Deuses. Deuses que servem de alimento para a alma, Deuses que preenchem vazios da existência, Deuses capazes de apaziguar angústias e curar feridas incuráveis. Filha de um Deus menor, Oro para que os Deuses maiores Cubram a Terra do solo sagrado Que os homens teimam em profanar.

O divórcio.

Imagem
Foto de Helena Maria Milheiro. O divórcio. É triste. Acima de tudo, é triste. Em quaisquer circunstâncias, é triste. Os meninos são os que mais sofrem, e sofrem calados. Ainda crianças, não têm palavras para dizer, dizem com o corpo e com suas ações. E ninguém entende essa linguagem. Cuidam para que o pior não aconteça. Mas, o que é o pior? Saímos dessa situação sempre cheios de marcas doídas. É difícil se sentir inteiro, difícil se olhar no espelho, difícil não se achar feio. Somos um fracasso, desperdiçamos algo de valor, destruímos uma família... Somos médico e monstro. Para curar uma dor provocamos outras. E não tem como evitar. Saída? O tempo... No início, a respiração é ofegante, curta, rápida e insuficiente. As palavras são ásperas, rudes, mesquinhas e vingativas. Os pensamentos são os piores possíveis. Sentimos intensamente cada emoção, e não é nada bom. Há escuridão, que traz o medo. Não sabemos onde tudo isso vai dar. Não sabemos se e como iremos sobreviver, cada um de nós

Cigarro e café.

Imagem
Foto: Bruno Dias Cigarro e café. Borras são borras, das cinzas, cinzas. O momento é sóbrio, mas não é em vão. Sorvo o café como sorvia então. Aspiro seu aroma, aprecio seu sabor, seu quente me aquece a palma mas, minha boca queima. Amargo e doce vêm e vão. Névoas se misturam e eu suspiro a fumaça mansa. Meu peito se preenche enquanto a alma, prenhe, se esvai no vão. Silente o céu cintila a calma na escuridão .

Encarne, viva.

Imagem
(Foto: Luis Miguel Récio) ENCARNE, VIVA. (Para uma amiga dorida) A tristeza chegou à tua vida sem aviso e sem trégua. A ponto de te fazer sofrer a maior das metanóias: tiveste que renunciar à alegria. Tiveste que subir na montanha mais alta sem água, abrigo ou companhia. Desceste ao poço mais fundo e escuro que a treva criou para o martírio. Atravessaste o fogo, não apenas as brasas, queimando corpo e alma. Tu choraste como quem é torturado até a loucura. Tua pele te foi arrancada do corpo como um réptil. Mas tens sangue quente, não te arrastas, não resistes ao veneno. A dor chegou em tua alma ardente como óleo encandescente. A dor atingiu teu espírito com tanta violência que teu corpo implorou clemência. Tua dor encarneceu. E tu conheceste o medo do toque, da proximidade e da intimidade. Não mais podias acalentar teu frio nos braços de quem amava, Não mais podias sentar no trono de rainha que o rei te ofertava, Não mais podias vestir as vestes de fada que teimava em tornear teu sembl