(Foto: Luis Miguel Récio) ENCARNE, VIVA. (Para uma amiga dorida) A tristeza chegou à tua vida sem aviso e sem trégua. A ponto de te fazer sofrer a maior das metanóias: tiveste que renunciar à alegria. Tiveste que subir na montanha mais alta sem água, abrigo ou companhia. Desceste ao poço mais fundo e escuro que a treva criou para o martírio. Atravessaste o fogo, não apenas as brasas, queimando corpo e alma. Tu choraste como quem é torturado até a loucura. Tua pele te foi arrancada do corpo como um réptil. Mas tens sangue quente, não te arrastas, não resistes ao veneno. A dor chegou em tua alma ardente como óleo encandescente. A dor atingiu teu espírito com tanta violência que teu corpo implorou clemência. Tua dor encarneceu. E tu conheceste o medo do toque, da proximidade e da intimidade. Não mais podias acalentar teu frio nos braços de quem amava, Não mais podias sentar no trono de rainha que o rei te ofertava, Não mais podias vestir as vestes de fada que teimava em tornear teu sembl...