Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2006

Tem porão.

Imagem
Foto de Adilson Faltz http://www.1000imagens.com/autor.asp?idautor=088 Tem porão. De pés descalços na vida Resta perambular. Os dias iguais Não têm areia contando horas Sonhos de ilusionista Escapam da luz e da sombra das ruas. Marcam como riscos O vazio da solitária. Clausura do desalmado.

Joy

Imagem
Joy. O medo faz tremer o que eu tenho dentro. E sai para fora gritando. Quanto mais grita, menos se escuta. O medo me faz temer o que eu tenho dentro. E calo a voz que não tem palavras. Quanto mais cala, mais escuto. Há um perigo rondando, à espreita. Fogo no chão, forro abaixo, faca no peito, forca no pescoço. E um pedido cada vez mais perceptível de proteção contra o que mora dentro. O que mora dentro não pode escapar. Círculo de giz para prender peru. Casco sem o qual o jaboti já não é. Ser e não ser, quase uma morte. Não ser e querer ser, quase uma esperança. Querer ser e não saber, quase um desespero. Olhar e não saber o que vê. Ver e suspeitar do inusitado. Reparar o que clama por cuidado. Um menino nasceu dentro de um homem. Olha o menino. Olha o menino. Menino. Me nino.

Flores.

Imagem
Foto: Ricardo Araujo Flores. Há rumores de que falta água. As folhas do lírio estão lambendo o chão. O cacto parece embebido. Satisfaz a pouca rega. Saciedade difere de flor. Já tentou agradar uma violeta? Exige luminosidade, Umidade, Dosagem, Adubagem, Freqüência, Calor... tudo na medida exata. Uma vez experimentei o prazer de ver minhas violetas florindo o ano todo, Imensas nas folhas, robustas na beleza. Nunca mais fui tão feliz com uma violeta. Cada flor é uma flor, Cada rega depende da flor para ser boa. Se há rumores de que a água é escassa Quem rumora é flor que sofre de secura.

Eu e a noite.

Imagem
Foto: Carlos Campos Eu e a noite. Hoje é demais  estar só. Nem o cigarro  me faz companhia. A lua me fita,  sem qualquer compromisso. A noite me abraça e eu fico nisso.

Uma mulher.

Imagem
(Foto: José Manuel Durão) Uma mulher. Uma mulher é apenas uma mulher. Mas não basta. Tem que ter qualquer coisa... De bela, de forte, de sensível, de submissa, de rebelde, de irreverente, de doce, de suave, de séria, de alegre, de brincalhona e de temível. Uma mulher é apenas uma mulher. Mas não pode. Tem que evitar qualquer coisa... De feiúra, de fraqueza, de dominação, de acomodação, de sem graceza, de amargo, de ácido, de salubre, de contundência, de promíscua, de triste, de desmancha prazeres ou de transparência. Uma mulher é apenas uma mulher. Tudo o que é, Nem tudo o que gostaria de ser, Nada do que não lhe permitem ser, Um pouco daquilo que escapa, Muito do que foi acostumada e do que desejam que ela seja, Sempre fazendo o contrário, Às vezes o inusitado, surpreendendo, Sutilmente igual a si mesma, Bastante do que jamais será.

Grãos de areia.

Imagem
(Foto: Rui Vale de Sousa) Grãos de areia. As ondas estão desmanchando os castelos, A areia ressurge como caminho a ser trilhado. Os sonhos que sonhava acordada Dão origem a uma visão mais nítida do lugar que ocupo. Os suspiros, que esvaziavam meus pulmões de ar, Enchendo-os de ansiedade, Dão lugar a uma tristeza fértil. Transito na dor de modo transformado. Não a dor da ausência, da solidão, do esquecimento, da indiferença... Dor de adeus, dor de fim. Quem sabe agora eu volte a ter força para remar E cruzar o oceano que me afasta de minha sensatez? Belos castelos, aqueles. Como dói vê-los apenas grãos de areia salgados pelo mar. Voltar a ter apenas dois pés e duas mãos... Que retorno doloroso, meu Deus! O nascer e o por do sol, Cavernas a explorar, Montanhas a atravessar, Na ausência de cumplicidade para os olhos E sentido para os sentidos. Não é o mundo que se desfaz, é um modo de vivê-lo, Um modo de ser despertada por ele. Onde buscar o encanto que me oferece como berço a todas as